segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

As lições que deixam para nós

Pretendia abrir esta postagem com a imagem de um trambolhão cuja operação ágil foi, durante muito tempo, essencial para a produção da mídia impressa, mas na busca por uma imagem adequada acabei encontrando a figura simpática aí ao lado, com um ar tão boa-praça que chamou minha atenção. Infelizmente, seu nome não aparece identificado na fonte, mas vamos chamá-lo de Luís. O seu Luís milita em profissão sem futuro, já quase extinta, com alguns profissionais que sobrevivem aqui ou ali graças à boa-vontade ou apego de seus empregadores (ou sei lá por qual outro motivo), ou devido às parcas economias dos lugares onde vivem. Seu Luís é um linotipista.
                O reinado do linotipo não foi tão longo, durou menos de um século, mas foi fulgurante, principalmente nas gráficas de jornais e revistas semanais, e seus operadores, os bons, eram tratados com respeito e consideração, pois deles dependia a agilidade com que uma publicação chegaria às prensas e, consequentemente, ao seu público.
                Ao surgir a impressão em offset, aos linotipistas restou a decisão: adaptarem-se e aprenderem a lidar com os novos meios de produção para continuarem fazendo parte dos parques gráficos em que trabalhavam ou insistirem em sua arte e deixar tudo por conta da sorte. As consequências das opções já são óbvias e discuti-las aqui é perda de tempo e desperdício de palavras. O importante é aprender com a lição que eles, os linotipistas, deixaram para nós, tradutores. É evidente que a encruzilhada profissional em que nos encontramos é bem mais "meandrosa" que aquela por onde passou a classe profissional de seu Luís, mas sua essência é a mesma: ou aprendemos novas técnicas, nos adaptamos e nos oferecemos ativamente ao mercado como profissionais renovados ou ficamos a depender, passivos, da necessidade de nichos cada vez menores ou das graças de terceiros. A escolha é de cada um. A minha, já fiz.

3 comentários:

  1. Isso me lembra de Paulo Rónai descrevendo como era traduzir mediante uma mesa enorme, em meio a prateleiras repletas de livros e dicionários...e o que mais me encanta: como ele guardava todo tipo de folheto que caía em suas mãos porque sabia que um dia precisaria da terminologia que eles continham. Bom, os tempos mudaram...quem gostaria de estar dependente de folhetos até hoje? É como diz uma frase que vi há pouco, atribuída ao Chico Buarque: "As pessoas têm medo das mudanças. Eu tenho medo que as coisas nunca mudem". Abraços, Ricardo

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  2. Jana, quando comecei a traduzir profissionalmente, em 2000, nem folheto de casa de massagem distribuído na rua eu deixava passar e ainda tenho algumas coisas que são difíceis de encontrar por aí, mesmo na internet (como um catálogo de cabos que é uma preciosidade). Mas é como você disse, as mudanças estão aí. Ou mudamos com elas, ou mudam a gente.

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  3. Ah, eu também guardo todos os livros que ganhei do meu ex-chefe na anvisa ou do ipam (uma ong nacional/internacional em defesa da amazônia), meus glossários de embarcações e aeronaves e panfletos que acho que vou precisar também. não dá pra confiar muito na internet e minha experiência até agora tem me mostrado que, nesse ponto, ainda possui pouco material!

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